segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

RELIGIÕES NA ÍNDIA E NA CHINA

RELIGIÕES NA ÍNDIA E NA CHINA Entre as religiões que se professam, hoje em dia, têm destaque o cristianismo, o islamismo e o budismo. O conjunto de seus seguidores, pelo menos nominais, forma um grupo que reúne aproximadamente a metade da população mundial. Mas há outras religiões de que pouco se fala, embora numericamente congreguem um grande número de fiéis. Lembramos, aqui, o hinduísmo, um termo genérico que engloba as correntes religiosas tradicionais da Índia com vários componentes que se inspiram em elementos próprios das antigas religiões nativas e nas que os invasores arianos impuseram a partir do segundo milênio antes de Cristo. A sua origem se perde na Antigüidade, foi continuamente enriquecido com aprofundamentos e visões novas, manifesta-se numa riquíssima simbologia, numa arte genial e em livros sagrados - os Vedas - estudados e interpretados ao longo dos séculos. Corresponde às exigências múltiplas e aos dons religiosos da espiritualidade dos indianos, um povo que se expressou especialmente por meio da religião. Mais de 700 milhões de pessoas na Índia, Bangladesh e Nepal seguem esta religião. A suprema aspiração do fiel hindu é a união com Brahman, a Unidade, o Absoluto, a Totalidade, ‘O que é’. “Todas as coisas, todas as pessoas são transformações - por emanação do Absoluto. Quanto mais elas se afastam de sua origem, tanto menos são ‘o que (a Totalidade) é’.” A fusão do espírito da pessoa (Atman) com o Brahman se realiza, porém, somente depois da morte, se a alma estiver totalmente purificada. O caminho da purificação é longo e difícil e só se alcança a fusão com o Brahman depois de uma série de reencarnações (ou transformações samsâra), durante as quais, pela lei do karman, cada um deve espiar as suas culpas e receber o prêmio pelas boas obras, reencarnando-se em condições de vida diferentes. Pouco se fala no hinduísmo no mundo ocidental. Não é uma religião barulhenta, não inspira nacionalismo ou reivindicações. É vista, superficialmente, como ignorância, porque levam os indianos a não matar as vacas e comer sua carne e impõe a divisão social em castas (o que, na verdade, é fruto das invasões e das vicissitudes históricas da Índia, embora justificada, a posteriori, pela religião). Há, porém, uma certa influência do hinduísmo em nossa cultura. Há sempre mais pessoas que acreditam no karma - aqui e agora - e o invocam sempre que se sentem injustiçadas ou injuriadas, como uma ‘rogação de praga’ automática. Outros sentem-se atraídos por esse Brahman, o Absoluto, no qual se perdem e vislumbram na Nova Era do Aquário os novos tempos em que isso se torna realizável. A reencarnação é crença comum entre bom número de brasileiros espíritas ou que declaram pertencer a outras denominações. A Índia, enfim, atrai por sua cultura milenar e por sua incessante procura do Infinito. É o que reconhecia também o papa Paulo VI, em Bombain, em 1964, ao afirmar que a Índia é uma terra sagrada, na qual está a origem das mais antigas culturas e a fonte de grandes religiões. É a casa de um povo que viu Deus com seu incansável desejo de descobri-lo através de profundas meditações e silêncios. Poucas vezes o desejo de Deus tem sido expresso com palavras tão repletas do espírito do Advento como em seus livros sagrados, escritos muitos anos antes da vida de Jesus Cristo: ‘do irreal leve-me à luz; da morte leve-me à imortalidade’. Na China, entre as religiões que têm um grande número de adeptos (embora, depois da experiência comunista e suas investidas contra a religião, não se conheça com clareza a situação) há o confucionismo e o taoísmo. Calculam-se em cerca de trezentos milhões os taoístas. As duas religiões nasceram quase contemporaneamente no século V a.C. Para os chineses antigos, é por intermédio da natureza que o homem descobre também o conceito de Deus. Os fenômenos naturais, dos quais dependem a boa ou a má sorte da existência, levam à idéia de um ‘dominador superior’, que os chineses chamam de ‘céu’ (tien). Para seguir o Tao (o ‘caminho’, ou a lei, a verdade) e chegar à felicidade, nesta vida, Kung Fu-Tse (nome chinês de Confúcio, que é uma forma ocidentalizada) propõe uma ética individual e uma ética das relações sociais. Confúcio não se importava com o ‘Tao-caminho do céu’, queria ser um intérprete e continuador dos antigos sábios, firmando princípios ético-políticos que estão na vida familiar, social e política chinesa. O tempo e os seguidores se encarregaram de dar ao confucionismo características religiosas. Ao contrário de Kunf Fu-Tse, Lao-Tse foi um anárquico, que abandonou o ofício de bibliotecário-arquivista da corte, cansado da corrupção, para iniciar uma longa viagem para o Oeste. No sistema filosófico que foi elaborado valendo-se dele, o taoísmo, o Tao está fora da natureza, absoluto e transcendente. Enquanto o confucionismo aceita os valores da sociedade e procura educar as pessoas, o taoísmo considera negativas as manifestações da natureza e da sociedade e propõe a fuga do mundo como caminho que conduz o homem ao Tao absoluto. Ao longo dos séculos, as duas filosofias sofreram profundas influências até serem transformadas em religiões institucionais. É o que aconteceu com os grandes líderes religiosos. Apresentam um ideal (ou uma utopia) e geram um movimento espiritual que sobrevive a sua morte. Os seguidores formam um grupo - geralmente com as características de uma seita - que, primeiro, por uma organização embrionária e, depois, formalizado, retransmite a mensagem em conexão com as necessidades diárias, os embates e as situações concretas pelas quais passam. Chega-se, enfim, à institucionalização do grupo, à igreja organizada com hierarquia, rituais, dogmas. A instituição oferece segurança - e controle - de conduta aos seus membros nas relações sociais e dá estabilidade à cultura do grupo. Ao se enrijecer e querendo preservar a todo custo certas prerrogativas e elementos considerados essenciais, pode dificultar mudanças necessárias, frustar personalidades e diminuir a responsabilidade social. Disso tudo, nasce a necessidade, em todas as instituições, especialmente as religiosas, do aparecimento de novos líderes - no judaísmo e no cristianismo considerados ‘profetas’- que, mantendo o ideal da mensagem inicial, levam às mudanças necessárias para que a utopia original não fique enterrada debaixo de montes de lixo ‘institucional’. É por isso que os profetas não são benquistos pelos hierarcas detentores e ciumentos de seu poder. Mas, lembramos, também, a utopia estéril de querermos construir uma vida social sem instituições: a natureza social do homem exige instituições - (in)felizmente. É a dialética constante de nossa vida social.

Nenhum comentário:

Postar um comentário