segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre a Dialética

DIALÉTICA


Dialética: gr. s.f. 1. Arte do diálogo para atingir a verdade. 2. Desenvolvimento do pensamento por tese, antítese e síntese. 3. Método de análise que procura evidenciar as contradições da realidade social e resolvê-las no curso do desenvolvimento histórico.
Lao Tsé, autor do livro Tao tö King (o livro do Tao), 7 séculos a.C., "autor" da dialética.
Heráclito de Éfeso. Para ele a realidade é um constante devir. Prevalece a luta dos opostos: frio/calor, vida/morte, bem/mal... não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois nem o rio já é o mesmo e nem nós também somos os mesmos.
Parménedes de Eléia. Segundo ele, o movimento é uma ilusão, tudo é imutável.
Para PLATÃO a dialética é um método de ascensão ao inteligível, método de dedução racional das idéias. "O conhecimento deveria nascer desse encontro (perguntas e respostas), da reflexão coletiva, da disputa e não do isolamento" (GADOTTI, 1995, P.16)
Para ARISTÓTELES a dialética é apenas auxiliar da filosofia. Atividade crítica. Não é um método para se chegar à verdade,é apenas uma aparência da filosofia. Para ele o método dialético não conduz ao conhecimento, mas à disputa, à probabilidade, à opinião. Conseguiu conciliar os pensamentos de Heráclito e Parmênides com a teoria sobre o ato e a potência: as mudanças existem, mas são apenas atualizações de potencialidades que já preexistiam.
PLOTINO a considera uma parte da filosofia e não apenas um método. Mas o sentido "método" predominou na Idade Média, ao lado da retórica e gramática e foi considerada uma arte liberal, a maneira de discernir o verdadeiro do falso.
No início da Idade Moderna a dialética foi julgada inútil, justificando que Aristóteles já havia dito tudo sobre a lógica. A dialética limitar-se-ia ao silogismo, uma lógica das aparências. (Kant e Descartes). Em Discurso do Método, Descartes propõe regras para a análise, para atingir cada elemento do objeto estudado e a síntese ou reconstituição do conjunto.
HEGEL concebe o processo racional como um processo dialético no qual a contradição não é considerada como "ilógica", "paradoxal", mas como o verdadeiro motor do pensamento. O pensamento não é estático, mas procede por contradições superadas, da tese (afirmação) à antítese (negação) e daí à síntese (conciliação). Uma proposição (tese) não existe sem oposição a outra proposição (antítese). A primeira será modificada nesse processo de oposição e surgirá uma nova. A antítese está contida na própria tese que é, por isso, contraditória. A conciliação existente na síntese é provisória na medida em que ela própria se transforma numa nova tese.
Para HEGEL, a dialética é uma aplicação científica da conformidade às leis inerentes à natureza e ao pensamento, a via natural própria das determinações do conhecimento, e de tudo que é finito. É o momento negativo de toda realidade, aquilo que tem a possibilidade de não ser. A possibilidade de negar-se a si mesma. Hegel chega ao real, ao concreto, partindo do abstrato: a razão domina o mundo e tem por função a unificação, a conciliação, a manutenção da ordem do todo. Essa razão é dialética, pois procede por unidade e oposição dos contrários. Hegel assim retoma Heráclito.
Para MARX, a dialética não é um método apenas para se chegar à verdade, é uma concepção do ser humano, da sociedade e da relação ser humano-mundo. Tanto Marx como Hegel sustentam a tese de que o movimento se dá pela oposição dos contrários - pela contradição.
Na dialética materialista expressa em O Capital, Marx afirma que não existem fatos em si, é o próprio ser humano que figura como ser produzindo-se a si mesmo. Pela sua própria atividade, pelo modo de produção da vida material. A condição para que o Ser Humano se torne Ser Humano é o trabalho, a construção da sua história. A mediação entre ele e o mundo é a atividade material. - Mao Tsetung resume o pensamento de Marx: "a concepção materialista-dialética entende que, no estudo do desenvolvimento dum fenômeno deve partir-se do seu conteúdo interno, das suas relações com os outros fenômenos, (...), deve-se considerar o desenvolvimento dos fenômenos como sendo o seu movimento próprio, necessário, interno, encontrando-se, alias, cada fenômeno no seu movimento, em ligação e interação com outros fenômenos que o rodeiam. A causa fundamental do desenvolvimento dos fenômenos não é externa, mas interna; ela reside no contraditório do interior dos próprios fenômenos. No interior de todo fenômeno há contradições, daí o seu movimento e desenvolvimento".
MARX não nega o valor e a necessidade da subjetividade no conhecimento. O mundo é sempre uma "visão"do mundo para o Ser Humano, o mundo refletido. A dialética não é um movimento espiritual que se opera no interior do entendimento humano. Existe uma determinação recíproca entre as idéias da mente e as condições reais de sua existência "o essencial é que a análise dialética compreenda a maneira pela qual se relacionam, encadeiam-se e determinam-se reciprocamente, as condições de existência social e as distintas modalidades de consciência.
Diz HENRI LEFÈBVRE: "o método marxista insiste muito mais claramente do que as metodologias anteriores, ... a realidade a atingir pela análise, a reconstituir pela exposição (síntese), é sempre uma realidade em movimento". A dialética considera cada objeto com suas características próprias, o seu devir, as suas contradições. Não existem regras universais fixas. Ponto de vista marxista de George Politzer: A dialética focaliza as coisas e suas imagens conceituais em suas conexões, em seu encadeiamento, em sua dinâmica, em seu processo de gênese e envelhecimento", observa as coisas e os fenômenos, (...) no seu movimento contínuo, na luta de seus contrários.
Para LEFÈBVRE: "A contradição dialética é uma inclusão dos contraditórios um no outro e, ao mesmo tempo, uma exclusão ativa." O método dialético busca captar a ligação, a unidade, o movimento que engendra os contraditórios, que os opõe, que faz com que se choquem, que os quebra ou os supera.
O materialismo dialético não considera a matéria e o pensamento como princípios isolados, mas com aspectos de uma mesma natureza que é indivisível, duas formas diferentes: uma material e outra ideal; a vida social, una e indivisível se exprime em duas formas diferentes: uma material e outra ideal. O materialismo dialético considera a forma das idéias tão concretas quanto a forma da natureza. O método dialético tem duplo objetivo:
1º) como dialético, estuda as leis mais gerais do universo, leis comuns de todos os aspectos da realidade, desde a natureza física até o pensamento, passando pela natureza viva e pela sociedade.
2º) como materialismo, é uma concepção científica que pressupõe que o mundo é uma realidade material (natureza e sociedade), onde o Ser Humano está sempre presente e pode conhecê-la e transformá-la.
A dialética marxista não separa teoria (conhecimento) e prática (ação). "A teoria não é um dogma mas um guia para a ação." A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na práxis que o Ser Humano deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A Dialética é uma unidade de contrários
Com ROUSSEAU, a concepção dialética da história, oposta à concepção metafísica, da Idade Média, começa a criar forma. Para ele todas as pessoas nascem livres e só uma organização democrática da sociedade levará os indivíduos a se desenvolverem plenamente. O indivíduo é condicionado pela sociedade.
ENGELS em a A Dialética da Natureza - formulou três leis gerais da dialética, a saber:
1ª - Lei da conversão da quantidade em qualidade: significa que na natureza, as variações qualitativas podem ser obtidas somente acrescentando-se tirando-se matéria ou movimento por meio de variações quantitativas;
2ª - Lei da interpenetração dos opostos, esta é a lei da unidade e da luta dos contrários, que garante a unidade e a continuidade da mudança incessante na natureza e nos fenômenos;
3ª - Lei da negação da negação, que garante que cada síntese é a tese de uma nova antítese, reproduzindo indefinidamente o processo.
Alguns princípios gerais ou características da Dialética são hoje aceitos:
1º Tudo se relaciona (Princípio da totalidade) - a natureza se apresenta como um todo coerente, onde objetos e fenômenos são ligados entre si, condicionando-se reciprocamente. "A compreensão dialética se encontra em relação de intensa interação e conexão entre si e com o todo, mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que o todo se cria a si mesmo, na interação das partes" (Karel Kosik, Dialética do concreto, p. 42, citado por Gadotti)
2º Tudo se transforma (princípio do movimento) Devir. A afirmação engendra a sua negação, porém a negação não prevalece como tal: tanto a afirmação como a negação são superadas e o que prevalece é uma síntese, é a negação da negação. O calor só pode ser entendido em função do frio.
3º Mudança qualitativa - dá-se pelo acúmulo de elementos quantitativos que num dado momento produzem o qualitativamente novo.
4º Unidade e luta dos contrários (Princípio da contradição) - A transformação das coisas só é possível porque, no seu próprio interior coexistem forças opostas tendendo simultaneamente à unidade e à oposição.

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A contradição é a essencia, a lei fundamental da dialética;
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Os elementos contraditórios coesistem numa realidade estruturada, um não podendo existir sem o outro.
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A existência dos contrários não é um absurdo lógico, ela se funda no real.

A Dialética pode ser subdividida em "três níveis"(Mandel)
1º Dialética da Natureza - objetiva - independente da existência de projetos, de intenções ou de motivações do homem, que não age diretamente sobre a história humana;
2º A Dialética da História - Projetos humanos nas lutas das classes sociais - a realização desses projetos estão ligados a condições materiais, objetivos, pré-existentes e independentes da vontade dos homens.
3º A Dialética do Conhecimento - "que é uma dialética sujeito-objeto, o resultado de uma interação constante entre os objetos a conhecer e a ação dos sujeitos que procuram compreendê-los".
LÓGICA FORMAL E LÓGICA DIALÉTICA
(Alvaro V. Pinto) "a lógica formal é a lógica da metafísica, assim como a lógica dialética é a lógica da dialética. O princípio que as distingue fundamentalmente é a contradição. A lógica dialética parte do princípio (ou lei) da contradição, a lógica formal parte do seu oposto, da lei da não contradição". Para a primeiraos objetos e fenômenos estão em constante movimento e para a segunda, os objetos e fenômenos estão estáticos.
DIALÉTICA: REGRAS PRÁTICAS

1.
Dirigir-se à própria coisa - análise objetiva;
2.
Apreender o conjunto das conexões internas da coisa, de seus aspectos; o desenvolvimento e o movimento (devir) da coisa.
3.
Apreender os aspectos e movimentos contraditórios, a coisa como totalidade e unidade dos contrários
4.
Analisar a luta, o conflito interno das contradições, o movimento, a tendência (o que tende a ser e o que tende a cair no nada)
5.
Não esquecer: tudo está ligado a tudo; - uma interação insignificante, negligenciável num momento pode tornar-se essencial e importante em outro.
6.
Não esquecer também de captar as transições dos aspectos e contradições; passagens de uns nos outros, transições no devir.
7.
Não esquecer ainda que o processo de aprofundamento do conhecimento que vai do fenômeno à essência e da essência menos profunda à mais profunda é infinito. Jamais estar satisfeito com o obtido.
8.
Penetrar mais fundo do que a simples coexistência observada. Penetrar sempre mais profundamente na riquesa do conteúdo, apreendendo conexões e movimento.
9.
Em certas fases do próprio pensamento, este deverá transformar-se, superar-se: modificar ou rejeitar sua forma, remanejar seu conteúdo - retomar seus momentos superados, revê-los, repeli-los, mas apenas aparentemente, com o objetivo de aprofundá-los mediante um passo atrás rumo às suas etapas anteriores e, por vezes, até mesmo rumo ao seu ponto de partida, etc.(op.cit. p.33) transcrevendo Lefebvrè "Logica formal, lógica dialética

DIALÁTICA E VERDADE:
Que garantias pode nos dar a dialética de que estamos no caminho certo para a verdade?
Marx afirma: "A dialética mistificada tornou-se moda na Alemanha, porque parecia sublimar a situação existente. Mas, na sua forma racional, causa escândalo e horror à burguesia e aos porta-vozes de sua doutrina, porque sua concepção do existente, afirmando-o, encerra, ao mesmo tempo, o reconhecimento da negação e da necessária destruição dele; porque apreende, de acordo com seu caráter transitório, as formas em que se configura o devir; porque enfim, por nada se deixa impor, e é na sua essência, crítica e revolucionária. (O Capital vol. I p. 17)
A dialética é também uma teoria engajada. Ao contrário da metafísica, é questionadora, contestadora. Exige constantemente o reexame da teoria e a crítica da prática. Não existe nenhum critério de relevância (nem científico, social, teórico, nem prático) que possa determinar que um ponto de vista é relativamente mais válido que outro. O professor pensador de sua práxis, deverá manter uma crítica e uma autocrítica constante, uma dúvida levada à suspeita, e a humildade de que fala PAULO FREIRE, para reconhecer cotidianamente as limitações do pensamento e da teoria.
Concluindo, a dialética opõe-se ao dogmatismo, ao reducionismo, portanto, é sempre aberta, inacabada, superando-se constantemente.

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